As Múltiplas Versões de Anna Kariênina no Cinema: Qual é a Mais Fiel?

   

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Poucas histórias na literatura são tão icônicas e complexas quanto Anna Kariênina, de Liev Tolstói. Publicado em 1878, o romance explora temas como o amor, a infidelidade, a hipocrisia social e a busca por sentido em uma sociedade rígida. Ao longo dos anos, essa obra-prima foi adaptada inúmeras vezes para o cinema, com diretores de diferentes épocas e estilos tentando capturar a essência da trágica heroína.

Mas será que essas adaptações conseguem fazer jus ao material original? Qual delas é a mais fiel ao livro de Tolstói? Neste artigo, vamos explorar as principais versões de Anna Kariênina no cinema e discutir qual delas se aproxima mais do espírito da obra literária.

Anna Kariênina segue a vida de Anna, uma mulher da aristocracia russa presa em um casamento infeliz com o oficial Alexei Kariênin. Quando ela conhece o atraente Conde Vronski, um caso de amor proibido se inicia, mergulhando Anna em uma crise pessoal que desafia as normas sociais e morais da época. Paralelamente, Tolstói também explora a vida de Konstantin Levin, cujo arco trata de questões filosóficas e espirituais.

O livro é uma análise profunda das contradições da sociedade russa do século XIX, e a queda de Anna, tanto emocional quanto social, reflete o dilema de viver em um mundo repleto de expectativas rígidas.

As Adaptações Mais Famosas de Anna Kariênina

Anna Karenina (1935) – Greta Garbo Encarnando a Tragicidade

A adaptação de 1935, dirigida por Clarence Brown e estrelada pela lendária Greta Garbo, é amplamente reconhecida como uma das primeiras grandes versões cinematográficas de Anna Kariênina. Garbo oferece uma performance arrebatadora, capturando a beleza e o tormento interior de Anna. Embora o filme seja fiel em muitos aspectos ao romance, ele inevitavelmente comprime a narrativa complexa de Tolstói para caber em seu tempo de execução mais curto.

  • Destaque: Garbo trouxe uma vulnerabilidade incomparável ao papel de Anna, fazendo com que essa versão se tornasse um clássico, apesar das limitações da época em adaptar a profundidade do romance.

Anna Karenina (1948) – Vivien Leigh como a Sofrida Heroína

Outra adaptação memorável é a versão de 1948, estrelada por Vivien Leigh, famosa por seu papel como Scarlett O’Hara em …E o Vento Levou. Este filme, dirigido por Julien Duvivier, oferece uma interpretação mais contida de Anna, com Leigh explorando as nuances de sua queda emocional e a destruição social que ela enfrenta. No entanto, assim como a versão de 1935, o filme sacrifica muitas das subtramas filosóficas e políticas presentes no livro.

  • Destaque: A atuação de Leigh dá vida à tragédia de Anna, mas a simplificação do enredo torna essa versão menos fiel à complexidade total da obra de Tolstói.

Anna Karenina (1997) – Sophie Marceau e uma Versão Mais Contemplativa

Dirigido por Bernard Rose e estrelado por Sophie Marceau, essa adaptação de 1997 tenta ser mais fiel ao texto original do que suas antecessoras. Marceau interpreta Anna com uma delicadeza que reflete bem sua luta interna, enquanto o filme se esforça para retratar a atmosfera opressiva da sociedade russa. Embora seja mais detalhado, ele ainda sofre de certas compressões narrativas necessárias para caber em um longa-metragem.

  • Destaque: A versão de 1997 é conhecida por tentar seguir mais de perto os eventos e os temas do romance, embora a densidade filosófica e a trajetória de Levin sejam novamente minimizadas.

Anna Karenina (2012) – Keira Knightley e a Versão Teatralizada de Joe Wright

A adaptação de 2012, dirigida por Joe Wright e estrelada por Keira Knightley, adota uma abordagem visualmente estilizada e quase teatral, com muitos cenários projetados como um palco de teatro. Isso criou uma experiência visual única, mas também uma certa distância emocional da intensidade real da história. Embora essa versão seja visualmente deslumbrante, sua fidelidade ao material original foi um ponto de debate entre críticos e fãs.

  • Destaque: O filme de 2012 toma liberdades artísticas significativas, sacrificando a profundidade emocional em favor de um estilo estético marcante, o que o torna menos fiel à essência trágica de Tolstói.

“Todas as famílias felizes se parecem; cada família infeliz é infeliz à sua maneira.” — Liev Tolstói, Anna Kariênina.

Qual Adaptação é a Mais Fiel ao Livro?

A fidelidade de uma adaptação de Anna Kariênina pode ser avaliada em duas dimensões: a fidelidade aos eventos do enredo e a fidelidade aos temas e à atmosfera do livro.

Fidelidade aos Eventos

Se formos olhar apenas para a recriação dos eventos do livro, a versão de 1997, estrelada por Sophie Marceau, é provavelmente a mais fiel. Ela segue a maior parte da narrativa original, abordando com mais cuidado a relação de Anna com Kariênin e Vronski, além de captar o colapso emocional e social da personagem principal.

  • Destaque: A adaptação de 1997 é a mais fiel aos acontecimentos do romance, mas ainda deixa de lado algumas das complexidades filosóficas de Tolstói.

Fidelidade aos Temas e à Atmosfera

No entanto, quando se trata de capturar a atmosfera opressiva da sociedade russa e os temas profundos de amor, culpa e redenção, a adaptação de 1935, com Greta Garbo, consegue transmitir o peso emocional da obra de Tolstói de maneira notável. Embora simplificada, a versão de 1935 faz um trabalho excelente ao se concentrar no impacto emocional da queda de Anna.

  • Destaque: Apesar de suas limitações, a versão de 1935 com Greta Garbo é fiel ao espírito emocional de Anna Kariênina, capturando a essência da tragédia da personagem.

A Modernidade e o Impacto Cultural das Adaptações

Estilo Versus Substância

A versão de 2012, embora não seja a mais fiel, é talvez a mais inovadora em termos de estilo. O diretor Joe Wright optou por um formato teatral que dividiu opiniões: para alguns, o estilo elevado complementou a natureza da alta sociedade russa, enquanto para outros, essa escolha estilística removeu a profundidade emocional da narrativa. Esse filme representa a tendência moderna de explorar adaptações literárias através de uma lente artística contemporânea.

  • Destaque: A adaptação de 2012 é um exemplo claro de como modernizações estilísticas podem adicionar uma nova camada interpretativa a clássicos literários, ainda que à custa da fidelidade temática.

O Papel da Feminilidade nas Adaptações

Ao longo das décadas, o papel de Anna nas adaptações reflete mudanças na percepção da feminilidade e do empoderamento feminino. Enquanto as versões anteriores, como a de 1935, retratam Anna como uma vítima trágica das circunstâncias, versões mais recentes, como a de 2012, a tratam como uma figura de resistência contra as normas sociais. Isso adiciona um novo nível de interpretação sobre o papel da mulher nas narrativas clássicas.

  • Destaque: A evolução das adaptações de Anna Kariênina reflete mudanças culturais e sociais em torno das discussões sobre gênero e poder.

E você, qual versão de Anna Kariênina é sua favorita? Você prefere a fidelidade emocional de Greta Garbo ou o estilo inovador de Joe Wright? Compartilhe sua opinião nos comentários e participe da nossa comunidade de leitores e fãs de clássicos!

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