Jane Austen, uma das figuras mais icônicas da literatura inglesa, viveu uma vida relativamente tranquila, mas suas cartas pessoais, especialmente as que trocava com sua irmã Cassandra, revelam um lado mais íntimo e espirituoso da autora. Essas correspondências são uma fonte valiosa para entender seus pensamentos sobre família, sociedade, e até suas opiniões pessoais sobre sua própria obra.
Embora muitas das cartas tenham sido destruídas pela própria Cassandra após a morte de Jane, o que resta dessas correspondências fornece uma janela fascinante para o mundo de uma das autoras mais amadas da literatura mundial. Neste artigo, exploraremos as revelações contidas nas cartas de Jane Austen para sua irmã e o que elas nos dizem sobre a autora por trás de Orgulho e Preconceito e Razão e Sensibilidade.
A Relação Íntima entre Jane e Cassandra
Jane Austen e sua irmã mais velha, Cassandra, sempre mantiveram uma relação extremamente próxima. As duas compartilhavam confidências, sentimentos e observações sobre a vida ao seu redor. Quando estavam separadas, suas cartas eram o principal meio de comunicação, e Jane muitas vezes usava esses momentos para se abrir de maneira sincera e até divertida sobre seus dias, seus romances, e as pessoas que conheciam.
Cassandra foi a maior confidente de Jane e também a guardiã de sua privacidade. Quando Jane morreu, em 1817, Cassandra destruiu muitas das cartas que havia trocado com a irmã, presumivelmente para proteger a imagem da autora de qualquer comentário indiscreto que ela possa ter feito sobre amigos e familiares.
- Destaque: A correspondência entre Jane e Cassandra oferece um vislumbre das emoções mais íntimas de Jane Austen, e também uma prova de sua proximidade inquebrável com a irmã.
Reflexões sobre a Vida Cotidiana e a Sociedade
Nas cartas que sobreviveram, encontramos várias reflexões de Jane sobre a vida cotidiana. Jane Austen era uma observadora afiada da sociedade, e nas cartas para Cassandra, ela revelava sua visão crítica sobre as pessoas ao seu redor. Muitas vezes, ela fazia comentários irônicos e espirituosos sobre visitas sociais, eventos da aldeia, e até possíveis pretendentes.
Por exemplo, em uma carta datada de 1796, Jane brinca sobre um encontro com um pretendente, comentando com humor afiado que ele era “mais alto que eu esperava” e que “se eu continuar a conhecê-lo, devo inevitavelmente apaixonar-me por ele”. Essas observações espirituosas oferecem uma prévia do estilo sagaz que seria tão marcante em seus romances.
Jane também comentava sobre os assuntos sociais da época, como as limitações enfrentadas pelas mulheres. Em outra carta, ela ironiza a obsessão com o casamento na sociedade, ecoando temas que ela exploraria mais profundamente em suas obras, como em Orgulho e Preconceito.
- Destaque: Jane Austen usava suas cartas para fazer observações mordazes e bem-humoradas sobre a vida social da época, fornecendo um retrato das limitações e frivolidades da sociedade inglesa.
O Processo Criativo de Jane Austen nas Cartas
Algumas das correspondências entre Jane e Cassandra também revelam detalhes fascinantes sobre o processo criativo de Austen. Em suas cartas, Jane mencionava os romances que estava escrevendo e frequentemente pedia a opinião de Cassandra sobre trechos ou personagens. As duas irmãs compartilhavam um amor pela literatura e Cassandra era uma das primeiras leitoras e críticas das obras de Jane.
Por exemplo, em uma carta de 1813, Jane escreve a Cassandra para contar sobre a publicação de Orgulho e Preconceito, dizendo: “Fico satisfeita o suficiente. O Sr. Darcy está bem, mas não se compara a mim quando escrevi.” Esse comentário revela a modéstia de Jane, mas também seu humor ácido em relação à recepção de seus próprios personagens.
Além disso, em várias ocasiões, Jane expressou suas frustrações com o mundo editorial. Em uma carta de 1816, ela lamenta os desafios enfrentados com a publicação de Emma, que envolvia a negociação com os editores e a incerteza sobre o sucesso comercial.
- Destaque: As cartas revelam como Jane Austen lidava com os desafios de ser escritora e como ela confiava na irmã para ser sua crítica mais confiável durante o processo criativo.
Sentimentos sobre Família e Amizades
Jane Austen também usava suas cartas para compartilhar seus sentimentos sobre sua família e amigos. Como qualquer pessoa, ela enfrentava momentos de tensão familiar, e as cartas para Cassandra revelam seus sentimentos mais íntimos sobre essas dinâmicas. Ela frequentemente escrevia sobre os irmãos e suas preocupações com o bem-estar de sua família.
No entanto, Jane também tinha um senso de humor afiado ao falar sobre as pessoas ao seu redor. Ela era conhecida por fazer observações sarcásticas sobre conhecidos e vizinhos. Essas descrições espirituosas, muitas vezes reservadas para suas cartas privadas, mostram que a autora tinha uma visão bem-humorada, mas crítica, das interações sociais.
Ela também comentava sobre as amizades e sobre suas próprias escolhas de vida, revelando uma mulher que, embora fizesse parte de uma sociedade que enfatizava o casamento, encontrava satisfação em sua vida literária e em sua independência.
- Destaque: As cartas de Jane para Cassandra mostram que, além de ser uma observadora crítica da sociedade, ela também refletia sobre suas próprias escolhas de vida e as expectativas da época.
A Destruição das Cartas: Um Mistério Literário
Após a morte de Jane Austen em 1817, Cassandra destruiu uma grande quantidade das cartas trocadas entre elas. As razões exatas para essa destruição nunca foram totalmente esclarecidas, mas acredita-se que Cassandra queria proteger a memória da irmã e impedir que qualquer comentário indiscreto ou pessoal chegasse ao público.
Por causa dessa destruição, muito do que poderia ter sido uma fonte rica de insights sobre a vida de Jane Austen foi perdido. O que resta, no entanto, ainda oferece uma visão única da mente afiada e criativa de Austen, mostrando seu humor, suas preocupações e o que a movia como escritora.
- Destaque: A decisão de Cassandra de destruir muitas das cartas de Jane adiciona uma aura de mistério à vida pessoal da autora, deixando-nos apenas com fragmentos de suas reflexões mais íntimas.
As Cartas Como Espelho da Alma de Jane Austen
As correspondências entre Jane Austen e sua irmã Cassandra nos revelam uma autora com uma mente viva e espirituosa, que transformava suas experiências cotidianas em material para observações afiadas sobre a sociedade, a família e o amor. Embora muitas das cartas tenham sido perdidas, as que sobreviveram mostram um lado mais íntimo de Austen, permitindo-nos compreender melhor sua personalidade e processo criativo.
Essas cartas são mais do que simples documentos históricos — são janelas para a alma de uma das autoras mais amadas da literatura inglesa. Elas nos lembram de que, por trás dos romances imortais, havia uma mulher cheia de humor, observações perspicazes e um amor profundo por sua irmã e confidente.
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