Anna Kariênina, de Lev Tolstói, e Madame Bovary, de Gustave Flaubert, são dois dos romances mais importantes da literatura mundial, ambos apresentando protagonistas femininas que se tornam símbolos da busca por liberdade e do peso das convenções sociais. Anna Kariênina e Emma Bovary são personagens que, em suas respectivas obras, se envolvem em relacionamentos amorosos fora do casamento e buscam um sentido mais profundo para suas vidas além do que é oferecido por suas realidades limitadas. No entanto, essa busca acaba levando ambas a um fim trágico.
Neste artigo, vamos analisar como Tolstói e Flaubert retratam o destino trágico de suas protagonistas, explorando o papel da sociedade, do desejo e da insatisfação pessoal nas decisões de Anna e Emma. Apesar de suas diferenças, ambas as personagens compartilham uma insatisfação profunda com suas vidas e enfrentam as consequências de desafiar as normas sociais de seus tempos.
Anna Kariênina e Emma Bovary: Protagonistas à Procura de Algo Mais
Anna Kariênina e Emma Bovary são mulheres que vivem em épocas e contextos diferentes, mas compartilham o desejo de escapar da monotonia e da insatisfação de suas vidas cotidianas. Anna, casada com o austero Karenin e mãe de um filho, é uma mulher atraente e sofisticada que, ao conhecer o jovem oficial Vronski, se apaixona perdidamente e decide arriscar tudo por esse amor. A busca de Anna por uma conexão verdadeira e apaixonada a leva a romper com a sociedade russa aristocrática, o que acaba a isolando e, eventualmente, levando-a a um destino trágico.
Emma Bovary, por sua vez, é uma jovem que se casa com Charles Bovary, um médico simples e sem ambições, acreditando que o casamento a levaria a uma vida de romance e aventura. No entanto, Emma logo se vê presa em uma existência banal e tediosa, sonhando com a sofisticação e a emoção que lê nos romances que consome avidamente. Na tentativa de encontrar a felicidade e a paixão que sente que lhe falta, Emma se envolve em casos extraconjugais e gasta dinheiro em excesso, o que a leva a um fim igualmente trágico.
Ambas as personagens compartilham a busca por algo além das restrições de suas vidas e dos papéis que lhes são impostos como mulheres. Essa insatisfação e o desejo por liberdade e realização pessoal são os motores de suas ações, mas também o que as coloca em confronto direto com as normas sociais e a realidade de suas posições.
- Destaque: Anna e Emma compartilham o desejo de escapar da monotonia de suas vidas, buscando a liberdade e a realização em um mundo que as restringe, o que as leva a destinos trágicos.
O Papel da Sociedade e da Moralidade
A sociedade exerce uma influência poderosa nas vidas de Anna Kariênina e Emma Bovary. Ambas são mulheres que, ao desafiar as convenções sociais de seus tempos, acabam sendo marginalizadas e condenadas. Em Anna Kariênina, Tolstói retrata a sociedade russa aristocrática como implacável e hipócrita. Enquanto Anna tenta viver seu amor com Vronski de maneira aberta, ela é rejeitada por seus antigos amigos e é constantemente julgada. Seu status como uma mulher que abandonou o marido e o filho a coloca em uma posição vulnerável e isolada, deixando-a sem suporte emocional ou social.
Emma Bovary, por outro lado, vive em uma pequena cidade provinciana na França, onde as expectativas são ainda mais restritas. Emma é sufocada por sua vida doméstica e pelas convenções da pequena burguesia, que não oferece nenhum espaço para o tipo de realização pessoal que ela deseja. Flaubert descreve com precisão o tédio da vida de Emma e a forma como sua tentativa de escapar desse tédio, por meio de casos amorosos e do consumo excessivo, a conduz à ruína financeira e emocional. A sociedade ao seu redor, em vez de ajudá-la, também é responsável por alimentá-la com falsas esperanças e pressões.
Ambas as obras destacam como a sociedade age de forma opressiva em relação às mulheres que ousam desafiar seus papéis tradicionais. Anna e Emma são punidas por suas transgressões, mas é importante notar que elas não são personagens moralmente simples. Tolstói e Flaubert criam protagonistas profundamente humanas, que cometem erros e agem de maneira impulsiva, mas cuja tragédia reside no fato de que suas buscas por algo mais são, em última análise, esmagadas por forças maiores do que elas.
O Desejo e a Ilusão do Amor

O desejo e a busca pelo amor são centrais para as jornadas de Anna Kariênina e Emma Bovary, mas, em ambos os casos, essa busca se revela cheia de ilusões e perigos. Anna se apaixona por Vronski e vê nele uma chance de viver um amor verdadeiro, algo que não experimentava em seu casamento com Karenin. No entanto, com o passar do tempo, a relação com Vronski se torna cada vez mais sufocante e cheia de inseguranças, especialmente à medida que Anna sente o peso do isolamento e da rejeição social. Seu desejo se transforma em uma obsessão que a consome, levando-a a perder sua estabilidade emocional.
Emma Bovary também busca no amor uma maneira de escapar de sua realidade enfadonha. No entanto, os casos extraconjugais em que ela se envolve — primeiro com Rodolphe e depois com Léon — nunca conseguem preencher o vazio que ela sente. Emma idealiza o amor, vendo-o como uma forma de atingir o glamour e a emoção que sempre desejou, mas esses relacionamentos são superficiais e egoístas, e nenhum dos amantes de Emma está disposto a oferecer a devoção que ela espera. A ilusão do amor, alimentada pelos romances que lê e pelos sonhos de uma vida idealizada, a leva a cometer erros fatais.
Tanto Anna quanto Emma caem na armadilha de acreditar que o amor romântico é a solução para suas insatisfações e, ao fazê-lo, acabam destruindo a si mesmas. Tolstói e Flaubert parecem sugerir que o desejo desenfreado, quando não temperado pela realidade e pela razão, pode ser profundamente destrutivo, especialmente em um contexto social que não oferece suporte às mulheres que buscam mais do que o esperado delas.
- Destaque: Anna e Emma buscam no amor uma maneira de escapar de suas realidades, mas suas expectativas idealizadas as conduzem a um caminho de ilusão e destruição.
A Tragédia e o Fim das Protagonistas
O fim trágico de Anna Kariênina e Emma Bovary é um elemento crucial em ambas as narrativas, representando a culminação de suas jornadas de busca e insatisfação. Anna, ao perceber que perdeu sua posição na sociedade e que seu relacionamento com Vronski está se deteriorando, entra em um estado de desespero cada vez mais profundo. Sentindo-se sem saída, ela escolhe acabar com sua vida jogando-se nos trilhos de um trem. Esse ato final é, ao mesmo tempo, um protesto contra a opressão que sofreu e uma rendição às forças que não pôde controlar.
Emma, por outro lado, também se encontra em uma situação desesperadora. Envolta em dívidas e sem perspectivas de encontrar o amor e a felicidade que sempre buscou, ela decide tomar arsênico para escapar da vergonha e da ruína iminente. Seu fim é igualmente trágico, pois revela como suas expectativas idealizadas a levaram a uma situação da qual não havia retorno.

Ambas as personagens enfrentam uma sociedade que não está disposta a perdoá-las por suas transgressões, e suas mortes representam tanto a punição pelos seus atos quanto o fracasso de suas tentativas de encontrar algo mais significativo em suas vidas. Tolstói e Flaubert mostram, com esses finais trágicos, que o preço da busca por liberdade e realização pode ser devastador quando não se tem apoio e quando as forças sociais são esmagadoras.
- Destaque: As mortes de Anna e Emma são a culminação de suas jornadas trágicas, refletindo o fracasso de suas buscas por felicidade em uma sociedade que não as aceita.
A Condição Feminina e a Tragédia da Insatisfação
Anna Kariênina e Madame Bovary são romances que exploram profundamente o desejo de suas protagonistas por algo além do que lhes foi dado em suas vidas. Anna e Emma são mulheres que, em busca de amor, liberdade e significado, desafiam as convenções sociais de suas épocas e enfrentam as consequências trágicas de suas escolhas. Tolstói e Flaubert, em suas representações, não apenas criticam as limitações impostas às mulheres, mas também mostram a complexidade e a profundidade da condição humana.
Ambas as obras são, acima de tudo, críticas sociais que revelam a hipocrisia e a rigidez das normas da sociedade em relação ao papel da mulher. Anna e Emma são personagens que se recusam a aceitar uma vida de conformidade e, por isso, são punidas. Seus destinos trágicos continuam a ressoar com os leitores modernos porque refletem questões que, de muitas maneiras, ainda são relevantes — a busca por realização pessoal, os limites impostos pelas expectativas sociais e o preço da liberdade.
- Destaque: Anna Kariênina e Madame Bovary são obras que, ao retratar o destino trágico de suas protagonistas, oferecem uma crítica poderosa à condição feminina e às restrições da sociedade, mostrando a luta constante entre desejo, liberdade e opressão.
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