“Eu sou um escritor completamente horizontal.” — Truman Capote.
Escrever é um processo profundamente pessoal, e cada escritor desenvolve seus próprios métodos e rituais para colocar suas ideias no papel. Alguns desses métodos são bastante comuns, como acordar cedo para escrever ou preferir uma xícara de café ao lado. No entanto, alguns escritores famosos têm hábitos tão excêntricos que se tornaram parte da mitologia literária.
Neste artigo, exploramos alguns dos hábitos mais estranhos de escritores célebres, mostrando como as peculiaridades pessoais e as manias ajudavam (ou, às vezes, atrapalhavam) seus processos criativos. Desde escrever deitado na cama até tomar banhos de gelo, descubra como esses autores icônicos encontravam inspiração de maneiras inusitadas.
Victor Hugo e Seus Banhos de Gelo
Victor Hugo, autor de Os Miseráveis, tinha um hábito peculiar quando precisava cumprir prazos apertados: ele costumava tomar banhos de água gelada. Essa prática não apenas ajudava a acordar e energizar o autor, mas também funcionava como uma maneira de punir a si mesmo, incentivando-o a voltar para a escrita. Além dos banhos gelados, Hugo também se isolava em seu quarto, trancando suas roupas para evitar qualquer desculpa para sair e, assim, se concentrar exclusivamente na escrita.
Durante a escrita de O Corcunda de Notre-Dame, Hugo adotou um método ainda mais drástico: ordenou a confecção de uma capa especial, sem mangas e desconfortável, que ele usava para se assegurar de que não seria tentado a sair de casa e abandonar o trabalho. Isso se mostrou eficaz, já que Hugo conseguiu terminar o romance em um período relativamente curto, impulsionado por seus métodos incomuns de concentração.
Truman Capote: Escrevendo Horizontalmente
Truman Capote, autor de A Sangue Frio, gostava de afirmar que era um “escritor completamente horizontal”. Ele não conseguia escrever sentado em uma mesa como a maioria das pessoas. Em vez disso, Capote escrevia deitado no sofá ou na cama, muitas vezes com um cigarro em uma mão e café ou um drink na outra. Capote começava escrevendo à mão, e depois passava a digitar, mantendo sempre esse método relaxado, mas estranho.
Para ele, a posição horizontal era fundamental para o processo criativo. Esse hábito era acompanhado por uma lista de superstições curiosas, como evitar o número 13 e nunca deixar mais de três bitucas de cigarro no cinzeiro — se o cinzeiro ficasse cheio, ele as jogava fora imediatamente. Para Capote, esses pequenos rituais e a postura descontraída eram essenciais para acessar sua criatividade.
- Destaque: Truman Capote preferia escrever deitado, nunca em uma mesa, e seguia uma série de superstições que incluíam evitar o número 13 e controlar o número de bitucas no cinzeiro.
Honoré de Balzac e Seu Consumo Excessivo de Café
Honoré de Balzac, o prolífico autor de A Comédia Humana, tinha um hábito de escrita intenso e nada saudável: ele bebia enormes quantidades de café para se manter acordado e produtivo. Estima-se que Balzac consumia entre 50 a 60 xícaras de café por dia enquanto escrevia. Ele acreditava que o café o ajudava a manter o foco e a energia necessários para sua rotina extenuante de escrita, que frequentemente envolvia escrever por 15 horas seguidas.
Em seus textos, Balzac descreveu os efeitos do café sobre o corpo e a mente, e embora apreciasse o impulso criativo que ele proporcionava, também reconhecia os riscos que essa dependência trazia. Diz-se que o consumo excessivo de café contribuiu para problemas de saúde que ele enfrentou ao longo da vida, mas isso não o impediu de usar a bebida como seu principal combustível criativo.
- Destaque: Honoré de Balzac bebia até 60 xícaras de café por dia para se manter produtivo, acreditando que o café era essencial para seu processo criativo, apesar das consequências negativas para sua saúde.
Maya Angelou e Seu Quarto de Hotel
A renomada poeta e escritora Maya Angelou preferia trabalhar fora de sua casa para evitar as distrações do ambiente doméstico. Sua solução foi alugar um quarto de hotel, onde ela escrevia diariamente. Angelou mantinha uma rotina rígida: chegava ao hotel por volta das 7h da manhã e ficava até a tarde, escrevendo à mão em cadernos. Ela não permitia que o quarto tivesse qualquer decoração que pudesse distraí-la — não havia quadros nas paredes, apenas uma mesa, uma cama e algumas anotações.
Angelou levava consigo um dicionário, uma Bíblia, cartas de baralho e uma garrafa de xerez. Para ela, esse ambiente austero, quase monástico, ajudava a se concentrar exclusivamente na escrita, sem a interferência dos confortos de casa. O isolamento do quarto de hotel era sua maneira de mergulhar completamente no processo criativo e manter o foco.
- Destaque: Maya Angelou escrevia em quartos de hotel alugados, criando um ambiente livre de distrações, que a ajudava a se concentrar na escrita e a manter uma rotina produtiva.
Friedrich Schiller e o Odor de Maçãs Podres
Friedrich Schiller, autor de peças como Maria Stuart e Os Bandoleiros, tinha um hábito bastante incomum: ele mantinha maçãs podres em sua gaveta enquanto escrevia. Segundo relatos, Schiller acreditava que o cheiro das maçãs em decomposição estimulava sua criatividade. O odor, que a maioria das pessoas acharia insuportável, parecia ser uma espécie de catalisador para seu processo criativo.
A esposa de Schiller confirmou que o poeta precisava desse estímulo olfativo para se sentir inspirado, e ele só conseguia se concentrar quando o cheiro forte das maçãs podres impregnava o ambiente. Embora não se saiba exatamente por que Schiller tinha essa preferência, é certo que ele acreditava que esse elemento incomum ajudava a evocar sua inspiração literária.
- Destaque: Friedrich Schiller mantinha maçãs podres em sua gaveta porque acreditava que o cheiro estimulava sua criatividade, um hábito excêntrico que se tornou parte de sua rotina de escrita.
Agatha Christie e a Escrita na Banheira
A famosa escritora de mistérios Agatha Christie tinha um hábito peculiar: muitas de suas ideias para histórias e tramas surgiam enquanto ela tomava longos banhos. Christie gostava de relaxar na banheira, e esse ambiente parecia ser propício para a criatividade. Ela chegou a afirmar que pensar nas histórias enquanto estava na banheira a ajudava a desenvolver melhor as tramas complexas de seus romances policiais.
Além disso, Agatha Christie não tinha um local fixo para escrever. Ao contrário de muitos escritores que tinham um escritório ou uma mesa dedicada ao trabalho, ela preferia escrever onde fosse mais confortável no momento, muitas vezes usando uma mesa de café e uma cadeira qualquer. Essa flexibilidade contrastava com a natureza meticulosa de suas histórias, mas funcionava perfeitamente para seu estilo.
- Destaque: Agatha Christie tinha muitas ideias enquanto relaxava na banheira e não tinha um local fixo para escrever, preferindo adaptar-se ao ambiente que fosse mais confortável e inspirador no momento.
O Poder dos Hábitos Estranhos
Os hábitos literários estranhos de escritores famosos mostram como o processo criativo pode ser extremamente individual e imprevisível. Cada autor desenvolveu seu próprio método de trabalho, muitas vezes motivado por superstições, peculiaridades ou a necessidade de criar um ambiente propício para a escrita. Esses rituais, embora incomuns, eram essenciais para esses escritores acessarem sua criatividade e transformarem ideias em obras imortais.
Essas histórias também nos lembram que, embora a inspiração seja um mistério, o esforço e a disciplina são elementos fundamentais do processo criativo. Seja tomando banhos de gelo, escrevendo na cama ou cercando-se do cheiro de maçãs podres, esses escritores encontraram maneiras únicas de cultivar sua criatividade e nos presentear com algumas das maiores obras da literatura mundial.
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